17.1.08

Esse post nem é daqueles com ironias e piadinhas infames. Tô numa outra espécie de transe. Leia quem quiser - ou aguentar.

Vocês sabem que existe aquilo de serviço militar obrigatório, né? Então, hoje fui lá saber da minha condição (mesmo eu tendo dito mil vezes 'eu não quero servir!') e... puft! 'Você está designado para incorporar à aeronáutica. Favor comparecer em tal lugar amanhã as 6h30.'.

Tá, é mentira. Não houve aquele 'Favor'. Eles não pedem, mandam. Odeio eles.

Diante disso, entrei em transe. Vontade de chorar, aperto no coração, enjôo. Sou desses. Não é todo dia que a gente vê claramente que vai perder um ano de nossas vidas, sabe? E não menciono o fato de fazer faxinas, lavar isso, aquilo, segurar armas, penar, penar, penar, servir, servir, servir. Olha a minha cara de servente!

Não nasci pra servir. Oi?

Fiquei hiper mal - é tipo adeus à faculdade (eu havia conseguido uma bolsa integral), adeus a tudo.

O choro tava engasgado e eu precisava chorar. Parti sozinho pro cinema.

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Antigamente, eu achava tão deprê quando via alguém sozinho no cinema. Pensava logo em solidão. 'A pessoa não tem amigos'. Tinha dó. Mas de uns tempos pra cá, eu tenho feito disso. Preciso de uns momentos eu-e-eu-mesmo, sabe? Já não ligo pras pessoas pensando 'que garoto só! na flor da idade!'

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Optei por um drama. Não tava naquela onde de chorar... de rir. Precisava chorar de chorar. E chorei, viu? O filme me trouxe a tona outro probleminha e, ao contrário do que se possa imaginar, me fez bem isso.

Voltei pra casa de busão. É perto. Cumprimentei motorista, cumprimentei cobrador. Sempre faço isso. As pessoas esquecem que atrás dos cargos há seres humanos. Gosto de mostrar que sei que eles estão ali. Mas, na verdade, eu não noto ninguém ali. Percebi isso hoje, no momento que cumprimentei a cobradora (será comum mulheres nessa profissão e eu não reparo?). Ela me respondeu sorridente. E eu só olhei pra ela por acaso.

Naquela hora, pensei: quantos sorrisos eu já deixei passar? Quantas pessoas já deixei de enxergar? Incontáveis. Os meus bom dia, boa tarde, boa noite, obrigado, de nada são extremamente automáticos e impessoais.

E eu sempre volto mal do quartel (hoje foi a terceira vez que lá estive!) porque? Porque aqueles fardadinhos de merda (me perdoem o palavreado!) não enxergam ninguém. Não olham pras nossas caras. Tratam todos como se fossem inferiores. E, de verdade, não me sinto nem um pouco inferior. Mas eles tratam a gente assim. Eles - quando - falam com você, falam sem sequer olhar pra tua cara. Eu me sinto invisível. E odeio isso. Me sinto um verme. Conseguem fazer isso!

E, cara, eu percebi que fiz isso a minha vida toda. Sempre, sempre, sempre. Sempre tratei todos como se invisíveis fossem. Inferiores. Bom dia, serviçal. Era essa a vibe.

Humpft.

Se era uma lição, eu já aprendi. Agora, me dispensem! *desesperado*

P.S: o uniforme da aeronáutica pelo menos não é tãããão old fashioned.