3.12.07


As luzes estão apagadas. As cortinas foram fechadas. Eles já não estão mais aqui. É a hora de ir embora, mais uma vez. Os portões serão fechados. Só que dessa vez, nunca mais voltarão a se abrir. Ninguém está feliz com isso. Alguns já se foram, com lágrimas nos olhos. Outros, como eu, permanecem aqui, paralisados diante dos fatos. Ainda vai ter um pouco mais, sabemos. Mas não vai ser a mesma coisa, não vai ser aqui. A primeira vez foi nessa casa. Pouca coisa mudou desde então. Crescemos. Tanto. Tá cada vez mais vazio. Mas não quero sair. Tô atrasando o momento o máximo que posso. Se ameaço levantar da cadeira, as lágrimas voltam. Nunca mais. Nunca mais assistiremos a nada disso. Nunca mais estaremos todos juntos, aqui. Nunca mais. É só nisso que penso. Eu tinha tudo que eu precisava até então. Agora não. Sinto um vazio. Sinto-me roubado. Vamos, vamos. Tenho que ir. Querem fechar a casa. Pra que tanta pressa? É a última vez. Me levanto e seco meu rosto. Subo os espaçosos degraus. Não vou olhar pra trás, não vou. Olhei. Não dá pra não chorar olhando, daqui de longe, do hall, toda a casa. Lembro-me da primeira vez que desci esses degraus. Vou sair agora. Eles já saíram. Ouvi os típicos gritos. Até disso sentirei falta. Subo a rampa. Fecharão os portões. Aqui fora tá todo mundo comentando. É importante pra tanta gente isso aqui. Vai para São Paulo? Vou. Claro. Não sei se resistirei. Não sei mesmo. Tá acabando de verdade. É contagem regressiva. E, independentemente de quando, como e onde, sempre que houver uma contagem regressiva, eu vou pular.