4.3.08

Velhos Negros, Novos Brancos


Não é segredo para ninguém que, de década em década, a industria musical americana investe em algum tipo de som, e tenta transformá-lo em algo novo, e vendável. Claro que nem sempre é algo bom, na verdade, quase nunca é algo bom. E para vocês não saírem por aí me jogando dardos, como se eu fosse uma foto da Paris Hilton, dizendo que estou mentindo, eu cito como exemplo, a Hilary Duff.
Mas nós, pessoas de um país de terceiro mundo, acabamos vivendo essas alternâncias musicas de uma maneira mais sofrida. Por que ao mesmo tempo em que temos de nos acostumar com os novos sons da juventude, ainda temos de conseguir lidar com os “atrasos” – que nunca são atrasos, e sim, uma natural relutância – de nossos músicos que, nunca conseguem andar na mesma superquickness – e nem na mesma estrutura, dos americanos.

Em menos de 40 anos nós já passamos pela fase Rock and Roll, pela fase mais Zen-Hippie da musica; andamos pelo Soul, chegamos ao New Wave – que diga-se de passagem, foi o boom da cocaína juventude –, vimos transformarem o rock em pop. Hoje, bem... acho eu, sem ter certeza de nada – por que o boom da juventude vem acabando com minha memória –, que estamos vivendo a época do Hip-Hop, R&B, e Soul. Até por que, não sei se vocês notaram, mas só toca isso nas rádios do mundo inteiro. Sabe que na Índia rola uns breaks da horinha hoje em dia, né?
Claro que, todos os ritmos perdem a sua essência, nesse processo de popularização. Mas quem liga, afinal? De nada adianta vir reclamar, mostrar que outros sons estão sendo feitos, que o mundo ainda tem salvação, segundo o Evangelho segundo Jesus Cristo, e que ninguém nasceu com pequenos blocos de o.b. no lugar dos neurônios. Porque ao meu ver, a industrial musical é assim, cruel mesmo.

Com a chegada dos anos zero-zero, nós acabamos vendo uma coisa um tanto inusitada acontecer: loiras sendo abolidas, e negras ganhando muito dinheiro, com suas respectivas imagens de falsas negras. Mas oi, as loiras nunca desistem? E a nossa maior prova de persistência loira, hoje em dia é evangélica, e atende pelo nome de Carla Perez. Ta, mentira, eu estava falando de Christina Aguilera, que até tentou se manter nas paradas musicais, ficando... negra. Mas não deu certo, como vocês bem sabem.

E o mais engraçado é que, isso dos negros invadirem, foi acontecendo de uma forma, que as pessoas nem pararam pra notar que de repente a televisão musical, era tipos aquele programa do Netinho, A turma do gueto. Não sei se vocês sabem, mas Michael Jackson, quando ainda era menor de idade, e podia comer crianças sem ser preso, foi o primeiro negro a ter um videoclipe exibido no canal de clipes americano, MTV. Isso nos anos oitenta, que até então, não era uma época de muita aceitação aos negros (e oi, nem dos gays, e Michael era tipos... os dois?). Até a Whitney Houston, teve lá seus problemas para conseguir ser bem aceita pela nata da industria musical. Nos anos sessenta, “ai” de quem escutasse Diana Ross, e não fosse negro, ou latino. Logo se tornava o símbolo da rebeldia. A coisa era simples: quem branco fosse, e pretos escutando ficasse, era logo um rebelde sem causa, ou um rebelde sem moral, e ninguem, além do RBD, curte isso de ser rebelde, né. Mas aí você pensa “então, que bom! Acabamos com a ditadura das cores na industria musical. Viva o quilombo dos palmares! Viva a Preta Gil!”, mas desculpa, galeres, não é bem assim que ta funcionando.

O preconceito hoje vem se mostrando de uma forma bem peculiar, e bem fino, na hora de se manifestar na nossa cara, sem que possamos perceber. Na atual musica Soul americana, no famoso Hip-Hop, que saiu dos guetos para o mundo, no R&B, o famoso Rhythm and Blues, não são bem aceitos os negros, de traços... negros.

“Nossa, que filosofico você, Pabby. Quer dizer, então, que só aceitam negros de traços o que? roxos? kkkk”.

Deixe-me explicar: para ser um negro famoso, hoje na musica, você jamais poderá ter aqueles velhos traços da galera gata que circula por Angola. Talvez você tenha de ser como a Beyonce, uma branca que deu o azar de nascer negra. Será que se Beyonce fosse um pouco mais escura, tivesse traços menos delicados, ela seria tão aceita por brancos – republicanos, e adolescentes – europeus, com tanto êxito, como vem acontecendo?
Estão imperando narizes perfeitamente afunilados, bocas simples, com o pequeno contorno europeu, olhos claros, puxando para o castanho escuro, mas ah, se puder puxar pro verde-mel, você estará melhor cotado impossível, na verdade. Do modo que sempre foi, mudando apenas a cor das novas modeletes.

E ah, jamais poderemos esquecer das loiras. Até porque oi, as loiras nunca desistem? Não sei se vocês repararam mas, Beyonce, Rihanna, Lil’Kim, Ciara... são todas loiras. É, gente, loiras mesmo. E claro que elas não tingem o cabelo, elas são negras-loiras-naturais. Tudo tão natural quanto os dentes da Amy Winehouse. Aliás, vocês já repararam que a cada dia que passa Beyonce mais branca fica? Michael Jackson fez escola, gentê.

Aí quando uma loira, daquelas falsificadas, lindas, e jovens, tipos a... Madonna (?), ou a Britney Spears (?), resolve entrar no mundo do Hip-Hop, a galera do gueto logo fica nervosa, e vem falando – porque preto adora um barraco, né? A prova disso são as favelas. Beijos! –, dando aquelas típicas balançadinhas de cabeça, que o Fat Family adora fazer, e que me irrita profundamente: “Se toca, branquela! Você não tem o groovy necessário, okay?”. Mas alô-alô comunidade black:

Os negros de hoje, são os brancos de ontem